O BANCO DO CARPINTEIRO (Curso de Josefologia - Parte IV - Capítulo 62)


O trabalho humano e, em particular, o trabalho manual, encontram no evangelho um destaque especial. Juntamente com a humanidade do Filho de Deus, o trabalho foi acolhido no mistério da encarnação, e também foi de modo particular redimido. "Graças à mesa de trabalho junto a qual exercia a sua profissão juntamente com Jesus”. Na verdade, “José aproximou o trabalho humano ao mistério da redenção”.
Os evangelhos salientam expressamente o fato que aquele, o qual sendo Deus tornando-se semelhante a nós em tudo, dedicou a maior parte dos anos de sua vida sobre a terra ao trabalho manual, junto a uma mesa de carpintaria".
Uma teologia que se limitasse desconsiderar este aspecto da vida de Jesus, seria superficial. Através da encarnação, Jesus não se serviu da realidade terrena somente com o objetivo de manifestar-se, mas se uniu a esta para santificá-la com a sua humanidade. Devido ao fato de que o trabalho constitui uma fundamental dimensão da existência humana sobre a terra, conclui-se que Jesus escolheu não por acaso esta dimensão, ou seja, o trabalho, para santificar o seu estado social.
O plano da encarnação se encontra neste ponto com José, o qual foi querido por Deus para apresentar ao mundo o seu próprio filho feito homem. Além do título davídico indispensável para o reconhecimento do Messias, Jesus recebe de José, como qualquer outro filho recebia de seu pai, também aquela dimensão concreta que o caracteriza, ou seja: "o estado civil, a categoria social, a condição econômica, a experiência profissional, o ambiente familiar, e a educação humana ", como muito bem afirmou o papa Paulo VI.
Sendo considerado sensivelmente filho de José, Jesus pôde herdar o título real de "filho de Davi", mas também assumiu aquele título profissional, ou seja, a qualificação de "filho de carpinteiro" (13,55). Jesus não se envergonhou de revestir a sua excelsa dignidade com a humilde condição de operário.  Embora Jesus pudesse exigir títulos mais elevados, escolheu, ao invés o título mais comum para si, aquele mais compartilhado com a condição humana, ou seja, aquele de operário.
A Constituição dogmática Gaudium et spes afirma que o Onipotente artífice do universo verdadeiramente "trabalhou com mãos de homem", santificando diretamente o trabalho humano. José foi perante a Providência divina o necessário instrumento de tal redenção, dada justamente na sua própria carpintaria, através de uma missão que ele não somente a exercitou ao lado de Jesus, mas inclusive acima de Jesus, o qual lhe era submisso (Lc 2,51).
Esta submissão, ou seja, a obediência de Jesus na casa de Nazaré, é entendida também como participação ao trabalho de José. Aquele que era chamado "filho do carpinteiro" tinha aprendido o trabalho do seu pai putativo. Se a família de Nazaré é na ordem da salvação e da santidade, o exemplo e o modelo para as famílias, é analogamente também o trabalho de Jesus ao lado de José carpinteiro.
Colocando o exemplo de São José aos trabalhadores, o papa Pio XII  salientava justamente que ele foi o santo em cuja vida tinha penetrado profundamente o espírito do evangelho. Se este espírito de fato provém do coração do Homem-Deus em todos homens, "é certo que nenhum trabalhador foi tão perfeitamente e profundamente penetrado quanto o pai putativo de Jesus, que viveu com ele na mais estreita intimidade e comunhão de família e de trabalho". Daqui veio o convite do mesmo papa: "se quereis estar perto de Cristo, “Ite ad Joseph”, “Ide a José”!  Este humilde carpinteiro de Nazaré, pobre de meios, mas certamente rico das mais autênticas virtudes, foi escolhido entre todos, inclusive entre os mais sábios, para educar o próprio filho Deus.
Na família de Nazaré, onde o trabalho não era considerado simplesmente como meio de ganho ou fonte de riqueza, mas como "expressão cotidiana de amor", Jesus crescia na escola de José, educado para a laboriosidade, virtude que favorece o crescimento humano, fazendo o homem tornar-se "em certo sentido mais homem ".