SÃO JOSÉ, NO FOLCLORE (Curso de Josefologia - Parte III - Capítulo 47)


Na tradição popular o Esposo da Virgem Maria, antes de mais nada, é o Santo protetor dos pobres.
O episódio que mais atingiu a fantasia popular  é aquele do santo casal chegando em lugares estranhos e  procurando abrigo na iminência do nascimento de Jesus, sem encontrar hospedagem de ninguém. Como reação psicológica encontra-se nas expressões de  culto popular uma evocação dramática do episódio, com um final que visa aplacar o sentimento de caridade da alma popular.
Há muitas e lindas canções populares que evocam a figura de são José em episódios mais ou menos lendários, imaginários acerca da Sagrada Família. Pertence a este tipo de narrativa popular uma lenda que visa fazer ressaltar a grande força de patrocínio de São José: mas a maneira de demonstrá-lo (fazendo com que até  mesmo um ladrão consiga alcançar o Paraíso) é um típico fruto  da fantasia do povo. Esta lenda  tem certa ligação com o “Debate em Paraíso”,  peça do teatro popular entre as mais aplaudidas da  Idade Média.
São José é também padroeiro dos marceneiros, e as corporações dos artesãos  madeireiros dos séculos passados foram as que mais incentivaram e promoveram a sua festa.
Duas, especialmente, são as características mais recorrentes na festa do Santo: os fogos e os pastéis. Em muitos lugares a antiquíssima tradição dos fogos da  primavera se faz coincidir com o dia 19 de março. Pilhas enormes de lenha são preparadas por devoção e incendiadas nas encruzilhadas e praças das cidades, por obra  especialmente dos jovens; e quando o fogo vira brasa, eles pulam em cima, revivendo antigos ritos agrestes de  purificação. A tradição dos pastéis é comum em quase todos os lugares onde se celebra a festa, mas em Roma apresenta traços de  férvida originalidade: o interesse pelo produto comestível é avivado pelas mais variadas e originais iniciativas de tipo publicitário, como por exemplo, por meio dos conhecidos “sonetos”, que tanto atraíram a atenção dos letrados no final do século passado e no começo do atual...
O amor e a piedade popular dos fiéis para com São José teve e continua a ter um matiz de gosto folclórico em muitos lugares. Por ocasião da festa de 19 de  março, é costume na Sicília, Itália, as famílias organizarem o  Banquete de São José, que consiste em  convidar alguns pobres para um almoço. Este é servido pelo  pai de família ou  pelo sacerdote na igreja. Ainda na Sicília, é hábito vestir um velho de bons costumes com  uma túnica e um  manto carregando  uma  vara florida na mão, com a qual abençoa quem quiser.  Neste dia, além de receber a hospitalidade das famílias, ele participa da missa e reza pela prosperidade da cidade. Em algumas localidades , neste dia  são levados pães à Igreja para serem abençoados e  depois distribuídos aos  pobres ou comidos em família. Numa outra localidade da Itália denominada Gela existe o costume de no dia 1º de  maio os devotos levarem  para leilão na Igreja o Prato de São José, formado por vários gêneros alimentícios. Ele é leiloado e a  renda revertida em  obra de  caridade. Ainda na Itália, na cidade de Riccia,  os fiéis praticam a chamada Devoção a São José, que consiste em convidar para  o almoço três pessoas:  um casal e um  jovem, representando José, Maria e Jesus. Na  ocasião são oferecidos alguns doces especiais que  trazem o nome do Santo, indicando assim seu compromisso de proteger os devotos.
      Outra bela tradição é encontrada em Siracusa,  onde doze devotos celebravam no dia 19 de  cada mês o chamado "Dezenove". Cada devoto preparava para o dia três roscas  grandes e várias outras pequenas e as  levava diante da estátua do Santo na missa do dia. Depois as três grandes  eram distribuídas a três pobres, normalmente a um idoso,  a   uma  moça e a uma criança, e as roscas pequenas eram distribuídas aos amigos. Ainda no dia 19 de  março, as pessoas que  podiam levavam todo tipo de gêneros alimentícios à igreja, que depois da missa eram vendidos e aplicados na  festa.
      O uso da chamada Mesa de São José, como  nos exemplos mencionados, ainda vigora em muitos lugares, nas mais  variadas formas, como preparar uma farta mesa no dia 19 de março e convidar cinco pessoas representando Jesus, Maria, José, Santa Ana e São Joaquim. Ou  preparar em  plena praça pública,  às 12 horas,  uma longa mesa ou várias mesas para os mais pobres e idosos. Outro costume é oferecer um pão de forma arredondada ao acender fogueiras. Um hábito bonito é  mandar benzer muitos confeitos no dia 23 de janeiro, festa dos esponsais de São José com Maria, e depois distribuí-los entre  os amigos e levá-los aos doentes. Em Bonn, na Alemanha, o arcebispo José Clemente (1688-1723) organizava na mesma festa uma  procissão do Santo que atravessava a cidade, e depois convidava três pobres a almoçar em sua casa. Em Iloilo, nas Filipinas,  um  almoço era oferecido na festa de São José a sete pobres, em memória de suas sete dores e alegrias. Em Malolos,  no mesmo  país, nos casamentos é executada uma dança religiosa chamada Panasahan,  para lembrar o santo casamento de José e Maria.
      Interessante ainda notar que em Nápoles, na Itália,  por ocasião da festa do Santo é  organizada a feira da "Violeta  de São José". Os devotos compram as flores e as oferecem em homenagem ao Santo nas igrejas ou diante das imagens que cada um  possui em sua casa, Na Província Italiana de Salermo, todos os anos são organizadas duas procissões que partem de  duas  igrejas diferentes com as estátuas de São  José e de Nossa Senhora. Elas se encontram na praça principal, com o detalhe de que no dia 19 de  março é Nossa Senhora quem oferece um maço de flores a São José, e no dia 08 de dezembro este retribui o dom. Quanto às flores, algumas delas receberam a denominação do Santo, como o conhecido "Lírio de São José",  o "bastão de São José" e  até a  planta colombiana  que traz o  nome de "Varitas de São José".
      Na  Escócia, São José é  o patrono do  tempo, e sua estátua às vezes é colocada fora de  casa coberta com um  guarda-chuva para indicar o tempo que se deseja. O mesmo costume existe na Austrália, onde a  imagem do Santo  é colocada fora com  um guarda-chuva aberto.
      No Brasil, a  população do Nordeste, que vive numa região de clima árido, tem São José como o Santo que envia chuva e é costume entre o povo dizer:  "Chuva no dia de São José,  inverno seguro",  ou seja, se chove no dia 19 de  março ou  nas proximidades desde dia, será bom o tempo para a colheita. Neste dia,  os fiéis fazem  uma procissão com a  imagem do Santo e soltam muitos fogos de artifício. Na Califórnia,  nos Estados Unidos, mantém-se viva a tradição de que no dia de São José os pássaros retornam  para a  primavera.
Numa disputa com Santo Antônio, São José é invocado pelas moças casamenteiras  para encontrar um bom marido. No Brasil, desde  o século XVIII ele é invocado pelas mulheres grávidas, as quais,  para ter um  parto feliz, recorrem a Nossa Senhora do Bom Parto,  mas com a  participação de São José. Ele ainda é conhecido através de muitas lendas  e canções que  exaltam seu  poder de intercessão. Entre as canções,  lembro no  Brasil o canto "Bendito São José" que o  povo utiliza as  procissões de penitência durante a seca, assim como no  tempo do Natal, nas festas de São José e nos  terços rezados em família. O canto se inicia com a estrofe: "Bendito louvado seja, Senhor São José, leva Deus Menino para Nazaré". Ainda no Brasil, em 1928 o Dr. José Rodrigues de Carvalho publicou,  na Paraíba do Norte,  uma Chácara  com a finalidade catequética de difundir o culto a São  José, invocado como  protetor das famílias cristãs. O  texto fala de  uma moça que se  livra de  um casamento indesejado, implorando a  proteção do  Santo. O texto se inicia com esta estrofe: "Estava ela chorando. Viu São José chegar..." - Maria, minha afilhada,  o que foi isso por cá?  É meu pai, meu bom padrinho, que comigo quer casar?



Questão para o aprofundamento pessoal

1.    Indique três tradições populares que fazem parte do Folclore Josefino.