A FUNÇÃO DE SÃO JOSÉ NA ENCARNAÇÃO E A SUA MISSÃO NA ÓTICA DO MAGISTÉRIO (Curso de Josefologia - Parte II - Capítulo 27)


Professamos que Jesus é o Filho de Deus, o qual foi concebido no seio de Maria por obra do Espírito Santo. Professamos também Maria como esposa de José, e José como Pai de Jesus e aquele que deu-lhe a genealogia, pois Jesus é “Filho de Davi”, porque também o é José (Mt 1,20). Por isso a Redemptoris Custos no Nº 7 fala que “se por um lado é importante professar a concepção virginal de Jesus, por outro, não é menos importante defender o matrimônio de Maria com José, porque é deste matrimônio que depende, juridicamente a paternidade de José. Daqui se compreende a razão por que as gerações são enumeradas segundo a genealogia de José”.  A realidade da história da encarnação exigia que Jesus nascesse de uma Virgem esposa e que, consequentemente, fossem  assumidas as instituições fundamentais do matrimônio, da paternidade e  da família. Assim, a união de Maria e José efetuou a natureza do matrimônio realizado na indivisível união dos ânimos, na união dos corações e no consentimento. A Paternidade de José tem plenamente a autenticidade da paternidade humana e da missão paterna da família. A família de José e de Maria, é o protótipo e o exemplo para todas as famílias.
É a realidade histórica da humanidade de Jesus que teve necessidade do exercício da paternidade de José para ser adequadamente inserida na ordem humana, social e religiosa que compreendeu a inscrição anagráfica, a circuncisão, a imposição do nome, a oferta do primogênito, a defesa, o sustento e a educação de Jesus enquanto verdadeiro homem. Tudo isso é conseqüência da União Hipostática, onde Jesus assumiu tudo o que é humano. De fato, José “deu a Jesus o estado civil, a categoria social, a condição econômica, a  experiência profissional, o ambiente familiar, a condição humana” (Paulo VI – Homilia 19/3/1964).
Assim, José “foi chamado por Deus para servir diretamente a Pessoa e a missão de Jesus, mediante o exercício da sua paternidade: desse modo, precisamente, ele cooperou no grande mistério da Redenção, quando chega a plenitude dos tempos, e é verdadeiramente ministro da salvação” (RC 8). José não é portanto uma figura decorativa de presépio, mas juntamente com Maria foi querido por Deus com uma tarefa precisa, cujo conhecimento é indispensável para compreender o próprio mistério da redenção que tem o seu fundamento no mistério da Encarnação.
A presença de São José na História da Salvação está ligada ao plano da Encarnação, que decretou a pertença do Verbo de Deus à humanidade através de sua inserção escondida  na instituição da família .
A escolha por parte de Deus da família de Abraão será historicamente sempre mais determinada no seio da família de Davi  e por ela, à família de José “Filho de Davi” (Mt 1,20).
A imagem de José, por isso, é tão ligada à genealogia messiânica, a ponto de representar a descendência última e fatídica da estirpe de Davi (Paulo VI, Discurso de 19/03/69). José foi, assim, o término da “sublime eleição” por parte de Deus a fim de ser entre todos os homens o “pai putativo” do Filho Unigênito e “verdadeiro esposo da Rainha do mundo e Senhora dos Anjos”. (SCR, Inclytus Patriarcha Joseph, 10/09/1847).  Estes dois títulos fazem de José uma figura inalcançável na ordem da santidade, por  causa das “graças singulares e dos celestes com que Deus muito o  enriqueceu, na perspectivas dos encargos a ele confiados. E, de fato, José cumpriu à perfeição o papel a ele confiado e a missão recebida, colocando-se sem reservas, “em tudo, à disposição da vontade de Deus com disposição que nem se  pode descrever” (1.c). A missão de José é “única”, grandiosa: custodiar a virgindade e santidade de Maria; cooperar na encarnação divina e na salvação dos homens. Toda santidade de José consiste exatamente no cumprimento fiel e perfeito desta missão tão grande e tão humilde, tão nobre e tão escondida,  resplandecente e ao mesmo tempo misteriosa” (Pio XI, Discurso de 19/03/1928).
Desde o momento em que o Anjo revela a José o seu ministério (Mt 1,21), sua vida não tem outro sentido nem outra razão senão servir ao Menino o futuro Redentor. Paulo VI exprime tudo isso de forma muito incisiva: “São José colocou logo à disposição dos desígnios de Deus toda a sua liberdade, sua legítima vocação humana, a sua própria felicidade conjugal, aceitando da família a condição, a responsabilidade e o peso, renunciando porém por um incomparável amor virginal ao amor conjugal que naturalmente alimenta e sustenta a  família, para oferecer assim com sacrifício total a sua existência às  imponderáveis exigências da vinda do Messias” (Paulo VI, Discurso de 19/03/1969).
Característica de São José é “ter feito de sua vida um serviço e um sacrifício ao mistério da Encarnação e à missão redentora que lhe vai unida; ter usado a autoridade legal, que lhe cabia sobre a Sagrada Família, para fazer-lhe dom total de si próprio, de sua vida e de seu  trabalho; ter  convertido sua vocação humana ao amor doméstico em sobre-humana de si, de seu coração e de toda sua qualidade, no amor posto a serviço do Messias brotado em sua casa” (Paulo VI, Discurso de 19/03/1966).
Se entre as figuras evangélicas destacam-se, por sua especial missão, São João Batista e São Pedro, o primeiro por ter sido precursor de  Jesus e o segundo por ter recebido dele em herança a Igreja, “a pessoa e a missão de José, recolhida e silenciosa, praticamente despercebida e desconhecida por sua humildade”(Pio XI, 1.c.), revela-nos um tipo de ministério tanto mais importante quanto mais escondido, tanto mais necessário quanto menos à vista.
Retornando à imagem evangélica da lâmpada doméstica, que difunde sua luz modesta e tranqüila, mas providencial e benéfica no  interior da casa, Paulo VI afirma que “José é esta luz a difundir seus raios benéficos na casa de Deus, que é a Igreja; enche-a com as humaníssimas e inefáveis lembranças da vinda neste mundo do Verbo de Deus, feito homem por nós e como nós, e  vivido sob a proteção, a guia e a autoridade do pobre carpinteiro de Nazaré. Ele é a luz que ilumina com seu incomparável exemplo, aquele que é próprio do Santo, entre todos afortunados por sua grande comunhão de vida com Jesus e Maria, de seu serviço ao Cristo, de seu serviço por amor” (Paulo VI, Discurso de 19/03/1966).
Pode-se afirmar que o exemplo de São José, a lição que nasce de toda a sua vida foi de grande valia na Igreja desde sempre. Paulo VI chega a  afirmar que “São José é o tipo do Evangelho que Jesus irá anunciar como programa para a redenção da humanidade; é o modelo dos humildes que o cristianismo eleva a maiores alturas; é a demonstração de que para sermos bons e autênticos discípulos de Cristo não precisa grandes coisas, mas são suficientes e necessárias as virtudes comuns, humanas, simples nas verdadeiras e genuínas” (Discurso de 19/03/1969).
Para Pio XI, “nenhum operário foi tão perfeitamente e profundamente imbuído (do espírito evangélico) como aquele que viveu com Cristo na maior intimidade e comunhão de família e de trabalho, seu pai putativo, São José” (Discurso aos Trabalhadores Católicos Italianos, 11/03/1953; conf. também, 1º/05/1955).
Nos exemplos de São José “é claro como Deus espera de cada um de  nós aquilo que Ele tem todo o direito de esperar,  ou seja, a resposta fiel e  generosa aos seus chamados, às suas  vontades, aos seus desejos,  o aproveitamento fiel e diligente do conjunto de dons naturais e sobrenaturais que Ele mesmo distribuiu a cada um , segundo as condições diferentes de vida, segundo os diferentes deveres do estado de vida que a cada um reservou” (Pio XI, 1. c). “Da pessoa de São José vem para todos a admoestação mais oportuna,  junto com aquele sentido de moderação e paciência, aquele amor ao silêncio e ao sacrifício, que dão firmeza às instituições de piedade, assistência mútua e elevação espiritual e material.
“A tríplice concupiscência: antes de mais nada, o dinheiro tem um terrível poder de sedução, sede de domínio é inextinguível ; os prazeres da vida levam para a condescendência e a tibieza. Podemos dizer o que quisermos, mas  quem desejar se salvar, encontrar abrigo seguro na casa do Pai e guardar intactos os dons preciosos de natureza e graça recebidos de Deus, só tem a fazer uma coisa: espelhar-se na doutrina imperecível do Evangelho e da Igreja, da qual a vida escondida de São José oferece um exemplo atraentíssimo” (João XXIII,  Discurso de 19/03/196l).
“São José é de poucas palavras, mas de vida intensa, não se omitindo a responsabilidade alguma recebida de Deus. Ele é exemplo de bela disponibilidade ao chamamento divino, de tranqüilidade em todos os acontecimentos de confiança plena atingida a uma vida de fé e caridade sobrenaturais e ao instrumento eficaz que é a oração... Quem tem fé não treme, não se afoba, não amedronta o próximo” (João XXIII, Discurso de 17/03/1963).

Questões para o aprofundamento pessoal

1.    Comente a afirmação da Redemptoris Custos nº 7 presente nesta lição.
2.    Leia e procure compreender as várias afirmações do magistério da Igreja presentes nesta lição, em relação à missão de José.