A FUNÇÃO DE PAI (Curso de Josefologia - Parte II - Capítulo 19)


Um dos primeiros deveres do pai hebreu para com o seu filho era de circuncidá-lo (Mekhilta sobre Ex XIII, 13). Este preceito não precisa ter tomado literalmente, porque a execução material da circuncisão podia ser também da mãe, (Ex 4,25), mas normalmente devido a delicadeza do intervento, recorria-se a uma pessoa capaz (mõhel). Esta consistia não somente na liberação do prepúcio, mas num intervento para descobrir completamente a glande. Era portanto a responsabilidade que o pai assumia para que o seu filho fosse inserido no povo da  promessa. Tratava-se conjuntamente de uma cerimônia que se fazia na casa da criança com a presença de algumas testemunhas; a tradição talmúdica fixava dez testemunhas. No rito o pai dava uma benção conforme o Talmud dizendo: “Bendito aquele que nos santificou com os seus mandamentos e nos ordenou de introduzir este na aliança de Abraão, nosso Pai”.
José, o pai de Jesus, providenciou este rito conforme determinava a lei. Podemos dizer que as gotas de sangue, o choro e as lágrimas do menino, foram todos detalhes daquele precioso momento histórico que José viveu diretamente.
Em resumo, podemos esboçar a responsabilidade paterna de José em relação a  Jesus nos seguintes encargos:
      - a imposição do  nome ao menino (Mt 1,15), quando assumiu o direito paterno e  o  reconheceu como filho;
      - o reconhecimento de Jesus como sendo "da casa e da família de Davi" (Lc 2,4 );
      - a circuncisão (Lc 2,21)  com a qual Jesus entrou a fazer parte do  povo da aliança;
      - o  resgate de Jesus como primogênito (Lc 2,22ss );
      - o cuidado na fuga e  permanência no Egito (Mt 2,13-22);
      - a vida em Nazaré  (Mt 2,51),  onde Jesus lhe era submisso.
            Para os hebreus o pai tinha a  obrigação de circuncidar o filho, pagar o resgate, instruí-lo na Torá, dar-lhe  uma profissão e  também uma esposa.
O matrimônio de José com Maria como já afirmamos, não foi um acontecimento sem importância na vida da Mãe de Deus, por isso este merece mais a nossa atenção e consideração, pois foi Deus quem escolheu pessoalmente José para ser esposo de Maria, designando  ambos a servirem através deste casamento, a encarnação do seu Filho. Podemos dizer que Maria não seria a mãe do redentor se não fosse a esposa de José, sendo Jesus o Filho de Davi, através de José, do qual passa necessariamente a sua descendência davidica. Na verdade “o matrimônio com Maria é o fundamento jurídico da paternidade de José”, e a paternidade de José passa através do matrimônio com Maria.
Se para nós cristãos  é indispensável professar a concepção  virginal de Jesus,  não menos importante é defender o matrimônio de  Maria com José, porque juridicamente é dele que depende a  paternidade de José.
É claro que trata-se de um matrimônio singular, estabelecido dentro do desígnio de Deus, pelo qual o “Amor de homem de José é regenerado pelo Espírito Santo”, de modo que proporciona uma vivência matrimonial que respeita a exclusiva pertença de Maria a Deus. José totalmente consciente exprimiu o seu generoso amor à Maria, tornando-o  “dom esponsal de si”. Ele foi chamado por Deus para servir diretamente a pessoa e a missão de Jesus através do exercício de sua paternidade cooperando assim no mistério da Redenção e por isso tornando-se “ministro da salvação”. A salvação da humanidade passou pela humanidade de Jesus e esta realizou-se nos gestos do dia-a-dia da vida familiar da Sagrada Família. Assim, todos os episódios da  infância de Jesus descritos nos Evangelhos, a começar pelo recenseamento, passando depois pelo seu nascimento em Belém, a circuncisão, a imposição do nome, a apresentação no Templo, a fuga no Egito, a permanência de Jesus no Templo, o sustento e a educação de Jesus em Nazaré, são todos gestos salvíficos. O âmbito familiar, a paternidade, a educação, os ritos, as  leis, o trabalho, o cansaço, etc., foram realidades nas quais José agiu “como ministro da salvação”, e de tudo isso, Jesus serviu-se como realidade do ministério paterno de José.
A sua paternidade não é aparente ou substitutiva, mas possui plenamente a autenticidade da paternidade humana, das tarefas paternas de um pai dentro de uma família, sendo a sua uma verdadeira família fundada pelo mistério divino, onde esta com a  encarnação assumiu a “forma humana da família do Filho de Deus”. Nesta família do Filho de Deus, José é o pai, também se a sua paternidade não é derivante da geração do Filho de Deus, contudo, Jesus como Filho de Deus, em virtude da união hipostática,  ou seja, de sua humanidade assumida na unidade da Pessoa Divina do Verbo-Filho, ao assumir a nossa humanidade, assumiu  também tudo o que é humano e em particular a família, esta primeira dimensão de sua existência aqui na terra, e por isso, neste contexto, assumiu também a paternidade humana de José.
Ao assumir a realidade humana, assumiu também a dimensão do trabalho, o qual cobriu o arco inteiro da vida de José. “Junto com a humanidade do Filho de  Deus o trabalho foi acolhido no mistério da encarnação como também foi redimido. Graças à mesa do trabalho, junto a qual exercia a sua profissão ao lado de Jesus, José aproximou o trabalho humano ao mistério da Redenção”.
No ambiente de trabalho vivenciado por José na carpintaria de Nazaré estava presente de forma expressiva a dimensão da  vida interior “da qual vinha a ele ordens e confortos muito particulares e davam a ele a lógica e a força para as grandes decisões”. As circunstâncias nas quais “José estava em diário contato com o mistério escondido nos séculos, que habitou em sua casa”, leva-nos a descobrir na suas ações , envolvidas de silêncio, um clima de profunda contemplação.
Ao lançar a Exortação Apostólica Redemptoris Custos, o Papa João Paulo II mostrou uma evidente preocupação de cumprir com alegria um dever pastoral; de apresentar à Igreja, São José, como também de fazer crescer “em todos a devoção ao Protetor da Igreja Universal e o amor ao Redentor, ao qual ele serviu exemplarmente”.
Com isso, o exemplo de São José, deve “consentir à Igreja, de encontrar continuamente a própria identidade no âmbito do desígnio Redentor, que tem o seu fundamento no mistério da encarnação”. A figura  e  a missão de São José não se prestam para um sentimentalismo ou para um devocionismo, mas para uma verdadeira devoção, que se traduz depois “numa prontidão de vontade para a dedicação às coisas que dizem respeito ao serviço de Deus”.


Questões para o aprofundamento pessoal

1.    Indique as funções ou deveres que José desenvolveu em relação a Jesus.
2.    Você está de acordo de que em todos os episódios da infância de Jesus de que José participou no exercício de sua missão, ele agiu como ministro da  salvação? Por quê?