BREVE HISTÓRIA DA TEOLOGIA DE SÃO JOSÉ (Curso de Josefologia - Parte II - Capítulo 40)


As primeiras notícias que temos desde o primeiro século do cristianismo sobre José nos vêm de Mateus e Lucas, o primeiro que endereçou mais à comunidade hebraica todas as informações de que dispamos sobre a origem, nascimento, infância e adolescência de Jesus e o segundo à comunidade grega. Ambos colocaram portanto claro, a colaboração de Maria e de José nos mistérios da encarnação e da redenção. Paralelamente aos dois evangelistas falaram também de São José os chamados evangelhos Apócrifos para da mesma forma explicitar aos primeiros cristãos e pagãos a dificuldade destes em aceitar os mistérios da concepção virginal de Maria e por isso recorreram a narrações imaginárias para preencher as lacunas dos evangelhos autênticos. Entre os principais Apócrifos estão o Proto-evangelho de Tiago (do fim do século II); Evangelho do Pseudo Mateus (século IV), a História  de José, o Carpinteiro (século V), o Livro da Natividade de Maria (século IX).
Durante estes mesmos séculos de surgimento dos Apócrifos houve muitos autores que falaram de São José, dentre os quais Santo Inácio de Antioquia, São Justino e Santo Irineu (século II). Tertuliano, Clemente de  Alexandria, Hipólito, Orígines, Júlio o Africano (século III). Eusébio de Cesaréia, Santo Efrém, São Basílio, São Cirílo de Jerusalém,  São Gregório Nazianzeno, São Gregório Nisseno, Santo Ambrósio, Santo Epifânio, São João Crisóstomo, Santo Agostinho, São Cirílo de Alexandria, São Pedro Crisólogo (Século IV –V). Santo Isidoro de Servilha (século VII).
Este carrossel de escritores desde os primeiros séculos demonstrou que São José não foi esquecido, se bem que só com São João Crisóstomo, Santo Agostinho e São Jerônimo, é que se começou a falar dele explicitamente. Contudo, isto tem uma explicação: Porque a preocupação dos estudos teológicos de então era os problemas cristológicos e as heresias.
Foi São Jerônimo que defendeu  firmemente a virgindade de São José e Santo Agostinho que sustentou claramente a sua paternidade definindo-a como real, também se virginal, assim como a verdade sobre o seu matrimônio com Maria. Com Santo Agostinho pode-se vislumbrar uma certa teologia de São José que depois passou-se a desenvolver por toda a era medieval, sobretudo com São Beda, o venerável (+735), Alcuíno (+856), São Bernardo (+1153), Pedro Lombardo (+1160), Santo Alberto Magno (+1280), São Tomás de Aquino (+1270). Todos estes garantiram um autêntico progresso na teologia de São José.
Depois destes doze primeiros séculos podemos apenas como um  flash, pois não ocorre agora uma visão mais aprofundada, indicar que houve um caminho na teologia Josefina nos séculos seguintes a começar do século XIII até o século XVIII onde a partir daí foi com os Franciscanos, escritores e pregadores, que a doutrina sobre São José começou a ser defendida, tendo como um dos primeiros representantes São Boaventura e depois seus discípulos Pietro Giovanni Olivi (+1298) e Ubertino de Casale (+1305), os quais elaboram princípios que fundamentaram os estudos da Josefologia de São José até hoje.
Para se ter uma melhor idéia da influência dos Franciscanos na teologia Josefina e na propagação da devoção a São José, basta lembrar os nomes de três Bernardinos: São Bernardino de Sena (1380-1444), Bernardino Tomitano de Feltre (1439-1494) e Bernardino de Bustis (1450-1513).
Tivemos depois no século XV, João Gerson (1363-1429), o qual tornou-se um incansável divulgador da doutrina e da devoção a São José. Na sua obra “Josephina” e depois no seu discurso aos Padres do Concílio de Costanza, “Sermo de Nativitate Gloriosae V. Mariae”, aos 08 de Setembro de 1416, ele exaltou a figura e a dignidade de São José, sobretudo como esposo de Maria. Continuou com vários outros escritos a exaltar os privilégios do Guarda do Redentor, esforçando-se para instituir a festa dos Santos Esposos. Gerson que tinha sido estudante na Universidade de Paris teve como professor, Pietro de Ailly, o qual depois tornou-se cardeal, e este tinha uma grande consideração por São José, inclusive com um escrito importante sobre ele, que naturalmente influenciou muito o amor de Gerson por São José.
Outro ponto referencial no desenvolvimento da teologia Josefina, teremos em 1522 com a obra “Summa de Donis S. Joseph”, escrita por Isidoro Isolani, Dominicano e professor de Universidade de Bolonha. Esta obra representou um verdadeiro compêndio do quanto até então tinha sido escrito sobre São José. Neste mesmo período outros contribuíram com a teologia Josefina e dentre tantos temos Caetano (1468-1536) e Bernardino de Laredo, um leigo franciscano que em 1535 publicou “Josefina”, um tratado sobre São José. Claro está que não podemos deixar de lembrar Santa Tereza D’ Ávila (1515-1582) que contribuiu muito com a sua devoção, os seus escritos e a dedicação de onze de suas fundações a São José.
São muitos os  nomes que neste período contribuíram para o desenvolvimento da teologia Josefina, contudo por questão de brevidade escolho apenas alguns para mencioná-los, tais como: Francisco Suárez (1548-1617), jesuíta que no plano teológico evidenciou com equilíbrio aspectos importantes da teologia Josefina; Gerolomo Gracián della Madre de Dios, Carmelitano descalço e discípulo de Santa Tereza que publicou em 1597 “Josefina”, João de Cartagena (+1617),  o qual escreveu muitas páginas sobre São José, São Francisco de Sales (1567-1622). Portanto, a teologia Josefina no século XVII teve um grande desenvolvimento, que contudo no século XVIII terá uma certa decadência, embora não faltaram alguns autores como Antonio Patrignani que em 1710 publicou “Il devoto di S. Giuseppe”, Pietro de Torrus que em 1773 publicou “Eccelenze di S. Giuseppe”, Antonio Paralta que em 1727 publicou “Dissertationes Scholasticae de S. Joseph”, Trombelli que em 1767 escreveu “Vita e Culto de S. Giuseppe”. Por fim, não podemos esquecer São Leonardo de Porto Maurizio (+1751) e Santo Alfonso M. de Ligori (1797).
Entre o século XIX até o princípio do século XXI, a teologia Josefina não deixou de receber ênfase, basta dizer que a partir do século XIX tivemos Manuel Maria de Sanlúcar, um capuchinho que escreveu “Nueva Josefina”, Francisco Saverio Butiná que publicou em Barcelona em 1889 “Glorias de San Jose”. Mais tarde Cipriano Macabiau (+1915), o qual esforçou-se muito para que o nome de São José fosse colocado logo depois do nome de Maria na liturgia e em outros momentos da missa, inclusive com um pedido assinado por 66 cardeais e 826 bispos, procurou apoiar sua ação com dois escritos: “De culto S. Joseph amplificando postutatum e Primauté de  S. Joseph”, o primeiro publicado pela primeira vez em 1887 e o segundo em 1897.
Ainda neste período alguns dos principais teólogos empenharam em produzir reflexões sobre São José, sobretudo antes do Concílio Vaticano II. Dentre os quais destacamos o teólogo Henri-Marie Lépicier (1863-1936), o qual escreveu “Tractatus de S. Joseph” em 1908; Eugenio Cantera, que publicou “São José en él plan Divino” em 1917; Urbano Holzmeister, com a publicação em 1945 “De Sancto Joseph quaestiones biblicae”; Bonifacio Llamera, que publicou a obra ‘Teologia de S. José” em 1953 e Roland Gauthier com “La paternité de S. Joseph” em 1953. Trinta anos depois o Pe. Tarcisio Stramare, professor de Teologia Bíblica na Pontifícia Universidade Laterahense em Roma, publicará “San Giuseppe nella Sacra Scritura nella teologia e  nel culto”.
Depois do Concílio Vaticano surgiram muitos escritores e comentadores que por meio de livros e revistas focalizaram a pessoa de São José e juntamente com eles surgiram Centros de Estudos Josefinos, Centros de Documentações e Investigações sobre São José e Revistas de estudos com cunhos científicos sobre este assunto. Além destes surgiram também os Simpósios Internacionais de Teologia realizados em diferentes países reunindo riquíssimos volumes de estudos Josefinos que abarcaram os 20 séculos de nossa história.
O certo é que de Pio IX em diante também os papas deram um grande impulso ao conhecimento, à doutrina e à devoção a São José através de Pronunciamentos, Homilias e Documentos, até chegar em 1989 com a mais completa publicação, a qual é como que uma síntese de toda a  doutrina Josefina, com a Exortação Apostólica de João Paulo II, “São José, o Guarda do Redentor”, a “magna charta” da teologia de São José.

Questões para o aprofundamento pessoal

1.    Dê uma breve panorâmica da história da teologia Josefina durante estes 20 séculos.
2.    Qual é o último documento mais completo do magistério da Igreja sobre são José? Colha ao longo destas lições três pensamentos deste e comente-os.