NATUREZA E RAZÕES DA PRESENÇA DE SÃO JOSÉ NA VIDA DA IGREJA (Curso de Josefologia - Parte II - Capítulo 32)


Se São José teve um relacionamento pessoal e direto com Cristo e com sua missão redentora, é evidente que também este deve estender-se para a Igreja que é o prolongamento de Cristo no mundo. Justamente por isso os bispos e superiores de várias ordens religiosas pediram além de um culto especial na liturgia, que também “o Santo ecumênico Sínodo Vaticano decretasse que São José, ao qual Deus tinha confiado a guarda da Sagrada Família, fosse declarado Primeiro Patrono da Igreja depois da Virgem Santíssima” (Ci prien Macabiau – De cultu S. Josephi, Sponsi Virginis Mariae ac Christi Parentis amplificando Postulatum, Paris 1908 pg 3-15).
Na verdade este Concílio, devido às situações políticas, terminou abruptamente e não houve tempo para tratar deste pedido que fora firmado por 38 dos 42 cardeais presentes no Concílio, entre os quais, aquele que depois foi o papa Leão XIII e por 217 bispos. Mas aos 8 de dezembro de 1870 o  Papa Pio IX com o Decreto Quemadmodum Deus proclamou São José como Patrono da Igreja Universal Católica. Neste Decreto o Papa lembra a eleição de São José  como guarda dos tesouros mais preciosos de Deus, Jesus e Maria, e que ele como pai abraçou e beijou com afeto paterno, e nutriu com especialíssima solicitude a Jesus e que por tal sublime dignidade que Deus concedeu-lhe, a Igreja lhe rende honras somente inferiores a Maria. Lembra que muitos prelados e fiéis tinham pedido de que fosse declarado Patrono da Igreja durante o Concílio Vaticano I e o papa quis atender o desejo dos solicitantes declarando-o solenemente Patrono da Igreja Católica (ASS 6 [1870] 193-194).
Alguns anos depois, Leão XIII, aquele que no Concílio Vaticano I tinha assinado a petição para a declaração do patrocínio de São José na Igreja, publicou a Encíclica Quamquam Pluries, em 15 de agosto de 1889. Nela ele diz: “São José é com título próprio, Patrono da Igreja, a qual dele espera muitíssimo a defesa e o patrocínio, porque ele foi o esposo de Maria e pai, como era tido, de Jesus Cristo. Disso lhe advém dignidade e graça, santidade e glória... A casa divina, a qual São José preside com pátria potestade, contém o germe da incipiente Igreja. A Virgem Santíssima enquanto mãe de Cristo, é também mãe de todos os cristãos, porque os gerou sobre o  Calvário entre as dores do Redentor; e Jesus é irmão como o primogênito de  todos os cristãos, por adoção e redenção. Em tudo isso devemos ver a causa pela qual, com título singular, ao beatíssimo Patriarca é confiada a multidão da qual é composta a Igreja, o que quer dizer, esta família inumerável e presente em todo o mundo, sobre a qual, por ser ele esposo de Maria e pai de Cristo, exercita uma autoridade em certo sentido paterna. É portanto justo e muito conveniente para a dignidade de São José que como em tempos passados considerou sua função de defender santamente a família de Nazaré em todas as suas necessidades, que agora proteja a Igreja de Cristo com seu celeste patrocínio”. (ASS 22 [1889] 67).
Fundamentando-se nos documentos pontifícios é evidente que a maior razão para o Patrocínio de São José é devido ao fato de que ele foi o pai e Jesus aqui na terra e portanto é também o pai da Igreja, seu Patrono e Protetor, porque a Igreja é o corpo de Cristo, inseparável dele. Portanto, Leão XIII ao colocar o seu pontificado ao patrocínio de São José, não teve intenção simplesmente de dar-lhe uma honra, mas fazer um reconhecimento por aquilo que ele é.
São José não é simplesmente Patrono da Igreja, mas também de cada fiel; de fato, o papa no seu Decreto ensina que a sua proteção é para todos os fiéis. Isto ele exprimiu muito bem de outra forma na oração que compôs para que fosse rezada no mês de outubro depois da reza do terço, com estas palavras: “Protegei cada um de nós com vosso constante patrocínio, a fim de que ao vosso exemplo e sustentados pelo vosso auxílio possamos viver virtuosamente, morrer piedosamente e obter no céu a eterna bem-aventurança” (ASS 22 [1889] 117-118).
Em decorrência disso, assim como chamamos Maria “Nossa mãe Celeste”, devemos também chamar São José “nosso pai”, como fazia Santa Tereza de Jesus que o chamava: “Meu pai e senhor São José”. Naturalmente face a esta sua prerrogativa, Pio IX com o Decreto Inclytus Patriarcha Joseph em 1847, tinha instituído a festa do Patrocínio para a Igreja e São Pio X  a quis como festa de primeira classe. (cf. Manuele Decretorum Sanctae Rituum Congregationis, Ratsbonae 1873, 441 nº 2168 e também o Decreto da S.R.C. Evulgato motu próprio, 24 julho 1911 – ASS 3 [1911] pg 35-351). Mas a Congregação para os Ritos em abril de 1956 aboliu esta festa substituindo-a por aquela de São José Trabalhador e somente acrescentou na festa de 19 de março o título de São José Patrono da Igreja Universal, mas este título também hoje não existe mais nos calendários litúrgicos.
A presença de São José na vida da Igreja está ligada também ao seu poder de intercessão, pois na verdade sendo ele presente na vida da Igreja e dos cristãos, pode-se concluir consequentemente o seu poder de intercessão, mesmo porque a própria Igreja acredita na intercessão dos santos, ou seja, na eficácia poder de súplica deles diante de Deus e inclusive colocando a pessoa de Maria como “Onipotência suplicante”. Em vista disso, o Papa  Pio XI numa mensagem aos casais aos 19 de março de 1938, intercede a São José para que “com a sua paterna providência e com a sua intercessão onipotente, seja de ajuda  a vós e às vossas famílias”. Um exemplo de confiança no poder de intercessão de São José é-nos dado por Santa Tereza de Jesus quando afirma: “Parece que o Senhor tenha dado aos outros santos a graça de socorrer-nos em qualquer necessidade particular, mas o glorioso São José, sei por experiência que nos socorre em todas...”
Muitos  escritores afirmam que sendo José o chefe da Sagrada Família e por vontade expressa de Deus, esposo e pai, Maria e Jesus o obedeceram na terra com espontaneidade e afetuosa submissão, e agora no céu ele continua  a gozar destes títulos de esposo e pai, e por isso pode-se supor que Jesus e Maria continuam com a mesma  atitude de  consideração e respeito a ele como tinham aqui na terra Santa Tereza d’ Ávila compartilha desta idéia chegando a afirmar que “no céu se faz o que São José pede”.



Questões para o aprofundamento pessoal

1.    Qual documento pontifício  que contém a declaração de São José como Patrono da Igreja Católica? E por qual papa deu-se esta declaração?
2.    Qual o papa que colocou o seu pontificado sob a proteção de São José?