REQUISITOS PARA A SUA PATERNIDADE (Curso de Josefologia - Parte II - Capítulo 17)


Na cena do nascimento de Jesus  as iconografias clássicas apresentam freqüentemente São José em atitude de adoração, ou de reflexão; às vezes em idade avançada, um mudo testemunho de fatos que o superam e quase guardião de um segredo no qual está envolvido. Claro que este tipo de iconografia espelha o sentimento dos fiéis, suscitado por pregadores influenciados pela literatura apócrifa desenvolvida nos primeiros séculos do cristianismo. A difusão desta realidade marginalizadora de São José foi devido ao fato que esta oferecia uma solução prática para alguns problemas que diziam respeito à  virgindade de Maria. Nesta perspectiva apresentar São José velho garantia a virgindade de Maria e resolvia a dificuldade dos irmãos de Jesus, os quais teriam sido filhos de José de um precedente casamento, e que depois de viúvo, teria se casado com Maria, segundo ensinavam os apócrifos.
É verdade que a Igreja nunca tomou como suas estas fantasiosas explicações definidas por São Jerônimo de “delírios” dos apócrifos justamente porque não são verdades. Mas por que Deus quis que Jesus nascesse de uma Virgem esposa, se a concepção de Jesus devia dar-se por obra do Espírito Santo? Dado que a paternidade biológica é contextualmente excluída, a presença de José como esposo é devida ao fato que a sua paternidade devia abarcar uma extensão mais ampla do que aspecto biológico, ou seja, devia abraçar aquele aspecto jurídico e também psicológico.
Afirmamos que a situação imaginada pelos apócrifos em relação a José é insustentável, quando se considera que o objetivo da presença dele, segundo a vontade divina, era não apenas aquele de dar a Jesus uma descendência legal, mas também aquele de honrar eficazmente a maternidade de Maria, coisa que na situação de sua idade avançada, e para dar a Jesus o sustentamento paterno, não-lhe era possível.
José é verdadeiro pai, com uma paternidade no significado mais completo, mesmo porque as modernas técnicas de fecundação artificial e de manipulação de engenharia genética, mostram que a paternidade considerada somente do ponto de vista biológico não somente é inadequada, como é também submissa às  decisões da lei. A paternidade humana não é simplesmente animal, pois inclui outros aspectos importantes; tem todo o aspecto jurídico do qual deriva direitos e deveres bem precisos que ligam os pais aos filhos e vice-versa. Há também o aspecto afetivo e o educativo, pois a criança concebida não é um ser auto-suficiente, mas tem necessidade de atenção e de cuidado para o seu desenvolvimento harmonioso. Além do mais, a psicologia ressalta não apenas a necessidade  de convivência, mas também  da presença paterna que dê ao filho um ponto de referência do qual ele tem necessidade para crescer sem desequilíbrio.
São José cumpriu  próprio esta função paterna a respeito de Jesus, dando-lhe conforme diz Paulo VI: “O estado civil, a categoria social, a condição econômica, a experiência profissional, o ambiente familiar e a educação humana”(Alocução 19/3/1964).
Contra Fausto que negava a descendência davídica de Jesus, porque não fora gerado por José, Agostinho afirma que José teve a autoridade paterna desde o momento que lhe foi ordenado de impor o nome ao menino. Assim como a Virgem era consciente de não tê-lo concebido pela união sexual com ele, o chama contudo, de Pai de Cristo. José é o pai de Jesus e devido ao matrimônio, merecem ambos de ser chamados pais de Jesus e não somente a mãe, mas também pai do mesmo modo que era esposo de sua mãe. “Pai e Esposo por meio da mente e  não da carne”, afirma Agostinho.(De nupttis et concupscentia 1,11,12). Ele é pai em virtude da união conjugal. Por que José não gerou Jesus por obra da carne, será que Maria deu à luz por obra da carne? O que o Espírito Santo operou nos dois. O Espírito Santo baseando na justiça de ambos deu a ambos o filho, por isso, diz Santo Agostinho, ele é tão seguramente pai, quanto mais castamente pai. Assinala ainda que Maria não obstante tivesse dado à luz ao Filho do Altíssimo, “não se colocou na frente na ordem do nome do marido, dizendo “Ego et Pater tuus” mas “Pater tuus et ego”. Não considerou a dignidade de seu seio, mas respeitou a ordem conjugal” (Sermo 51,11,18). De fato, Jesus não nega ser José o pai, e com eles desceu para Nazaré e era-lhes  submisso. Jesus era submisso a  ambos.
Jesus era considerado Filho de José também de outra maneira, como gerado totalmente de sua carne; mas pensavam assim somente aqueles aos quais era escondida a virgindade de Maria. Lucas relata que seus pais admiravam do que diziam do Menino. Jesus nasceu não de uma relação sexual de José, mas de Maria Virgem, ele mesmo o chama pai para que compreendamos corretamente que é esposo de Maria pela própria união conjugal (Ipsa Copulatione Coniugii). Sem a união da carne, e por esse motivo é pai de Cristo muito mais estritamente, sendo nascido de sua esposa, mais do que tivesse sido adotado por fora. Por fim, Santo Agostinho questiona: “José não era, portanto, pai, porque tinha acolhido o Filho sem a concupiscência da carne?” Em suma, José é pai de Jesus não porque o adotou, nem por amor à sua esposa e nem ainda por compaixão pela criança, embora estes sejam sentimentos nobres, mas sim porque Deus, o Pai de Jesus, que na plenitude dos tempos quis que se encarnasse no seio da Virgem Maria por obra do Espírito Santo, lhe manifestou com isso o seu amor.


Questões para o aprofundamento pessoal

1.    Explique com suas palavras por que José mesmo não sendo o pai biológico de Jesus é verdadeiro pai.
2.    Sabendo que Maria gerou Jesus não por obra da carne, mas por ação do Espírito Santo e que o Espírito Santo agiu também em José, concorda que também José deve ser chamado de pai de Jesus?