A IMPOSIÇÃO DO NOME A JESUS E OS SONHOS DE JOSÉ (Curso de Josefologia - Parte I - Capítulo 08)


Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor  falou pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que se chamará Emanuel (Is 7,14), que significa: Deus conosco. Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa. E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus” (Mt 1,21-25)
Sabemos que para o povo bíblico o nome designa a própria natureza do ser, as suas qualidades e a missão da pessoa. No livro do  Gênesis (17,5) Javé trocou o nome de Abrão para Abraão porque o tornou pai de uma multidão. Dar o nome ao filho é um direito inerente à missão dos pais, pois estes exercitam a autoridade sobre eles, e de certo modo designam a personalidade deles. De fato, Abraão deu o nome aos seus filhos Israel (Gn 16,15;); Isac (Gen 17,19);  Raquel ao filho José (Gn 30,22-24); Ana ao Filho Samuel (1 Sam 1,20); Zacarias a João (Lc 1,55-64). Na verdade, nesta ótica bíblica, José ao impor o nome a Jesus, o introduziu na descendência davídica com a sua conseqüente messianidade, assim como assumiu sobre ele os direitos de pai. De fato, São João Crisóstomo coloca na boca do anjo do anúncio a José, estas palavras: “Sem bem que tu, José, não tens nada a ver com a geração... te confiro igualmente aquilo que é próprio de um pai, impor-lhe o nome; te confio Jesus para que sejas aqui na terra o seu pai”  (In Matthaeum homilia IV: MG 57,46-47).
Quanto aos sonhos de José, devemos afirmar que os teólogos afirmam que a historicidade da revelação comporta a possibilidade da manifestação de Deus em todos os níveis da criação e das realidades da vida humana, inclusive os determinismos biológicos e psicológicos. Os sonhos estão presentes na história dos Patriarcas, tais como: Abraão (Gn 15,.12); Jacó (Gn 31,10-18); José (37,5-10), etc. No NT são apresentadas situações de visões mas que no contexto parecem sugerir sonhos (At 16,9; 27,23; 18,9; 23,11), além daquelas referências de Mateus, onde se descreve a vocação de José (1,18-25), A fuga para o Egito (2,13-15), A volta do Egito (2,19-23), etc.
            Ligado aos sonhos de José estão os anjos, os quais na mentalidade e concepção bíblica são considerados como seres do mundo celeste e mensageiros de Deus. São várias as passagens do NT que fazem referências aos anjos (Lc 1,11; 2,9; At 5,19; 8,26; 12,7.23; 22,43; Mt 4,11 etc.).
            A respeito dos sonhos de São José existem muitas interpretações seja dos Padres da Igreja, seja dos teólogos. Não nos interessa aqui fazer uma explanação particular das diversas posições, basta afirmarmos que quase todos os comentadores e os teólogos, consideram o sonho como um grau inferior de manifestação divina a respeito daquela manifestação feita em estado de acordado. Em vista disso, consideram que a inferioridade do meio com que Deus escolheu para comunicar a José o seu desígnio é justificado por uma minimização da exigência do caso, ou seja, visto que José conhecia a inocência de Maria, era de se considerar suficiente qualquer leve insinuação para acreditar que a Virgem tivesse concebido Jesus, o Filho de Deus, e que o seu ventre estava repleto do Espírito Santo, como afirmou Euthymius Zigobenus. Outros viram na inferioridade do meio de comunicação divina a José (através do sonho) o reconhecimento da  virtude  de José. Para ele era suficiente uma aparição não manifestada.
Numa linha mais psico–religiosa alguns afirmam no sonho bíblico há a “passividade do homem” diante da ação de Deus, que dispõe tudo, sobretudo no plano da salvação e disto se conclui que “os Patriarcas são chamados para uma missão que transcende toda capacidade humana; eles são guiados na própria atuação não por uma simples providência humana, mas pela própria voz de Deus..., São José, como os antigos Patriarcas, agiu em função de acontecimentos que transcendem o ser humano... Ele é o instrumento, mas a ação vem de Deus. Ele coloca daquilo que é próprio de si a obediência no cumprimento da ordem, mas quem dispõe de fato é Deus”. Como defende Cristobal de San Antonio.
O Papa Paulo VI evidencia neste fato, São José como modelo de escuta da vontade de Deus, onde por “três vezes no evangelho, se fala de colóquios de um anjo com José durante o sono. O que quer dizer isso? Significa que José era guiado, aconselhado no íntimo, pelo mensageiro celeste. Havia uma ordem da vontade de Deus que se antepunha às ações e portanto o seu comportamento normal era movido por um arcano diálogo do que fazer: José, não temas; não faças isso; partas, voltes! Vemos (nele) uma estupenda docilidade, uma prontidão excepcional de obediência e de execução. Ele não discute, não hesita, não reivindica direitos ou aspirações. Lança-se na execução da  palavra que lhe foi dirigida” (Homilia 19/3/1968).Portanto, José regulou a sua vida como a sua consciência, iluminada pelo o que o Espírito de Deus lhe ditava. Ele comporta-se conforme as inspirações que lhe vinham do alto.
Como conclusão pode-se dizer que os sonhos de São José conforme nos apresenta o evangelista Mateus, podem ser considerados como um meio de revelação divina. Eles podem ser considerados evidentes inspirações divinas que o guiava para o desenvolvimento de sua responsabilidade de pai legal de Jesus.
            Sabemos que os sonhos ocupam 20% do tempo do nosso sono. A Sagrada Escritura considera o profetismo (Dt 18,9-19) como a instituição privilegiada colocada à disposição de Israel para conhecer a vontade de Deus, mas admite a eficácia de outros meios legítimos, tais como visões, sonhos, etc. (Nm 12,6).
Neste sentido, uma das características dos sonhos que estão presentes na Bíblia, é a transcendência do puro interesse privado de quem sonha para inseri-lo no plano da salvação. Os sonhos de José narrados por Mateus evidenciam este fato, pois estes referem-se aos “mistérios” da vida de Jesus, ou seja, nascimento, permanecia no Egito e residência em Nazaré, mistérios estes, dos quais São José foi indispensável “ministro”. De fato, nos episódios de sua vocação (Mt 1,18-25), José resolve suas dúvidas diante da admirável maternidade de Maria, quando o anjo o coloca junto a ela para assegurar a messianidade de Jesus através da descendência davídica e depois para dar-lhe o nome. Da mesma forma, a permanência no Egito é para salvar a vida física de Jesus ameaçada por Herodes, mas dentro do “mistério” é a redenção da humanidade operada naquela região de antiga escravidão através do Filho e do intervento do Pai: “do Egito chamei o meu Filho” (Mt 2,15). O mesmo se pode dizer para a residência ou permanência em Nazaré segundo o plano de Deus, a qual condiciona de certo modo a vida e a missão de Jesus, sendo assim a chave para compreender o seu escondimento e o seu segredo messiânico que caracteriza toda a sua missão.
Estes eventos dentro da história da salvação não são crônicas, mas acontecimentos salvíficos, eventos determinados para a execução do plano de Deus, e por isso Deus deu a José, o “singular depositário do mistério”, o caminho para ser percorrido, também se de um modo mais discreto possível, ou seja, através do sonho.
Este sentido de disponibilidade e de obediência de José é lembrado por João Paulo II propondo-o como modelo para toda a Igreja, .. “Logo no princípio da Redenção humana, nós encontramos o modelo da obediência encarnado, depois de Maria, precisamente em José, aquele que se distingue pela execução fiel das ordens de Deus” (RC 30).

Questões para o aprofundamento pessoal

1.    Leia e tome conhecimento do relato de Mt 1,21 e procure responder em qual rito esta ordem do anjo a José foi cumprida.
2.    Ao impor o nome a Jesus, que conseqüências práticas ocorreram para o próprio Jesus e para José?
3.    Indique as passagens onde o anjo comunica-se com José em sonhos. Por que em sonhos?
4.    Dê as razões que o papa Paulo VI indica para o acontecimento dos sonhos na vida de José.