A VIRGINDADE DE SÃO JOSÉ (Curso de Josefologia - Parte II - Capítulo 34)


Podemos dizer que um esposo e uma esposa são castos vivendo moralmente o relacionamento conjugal (sexual) dentro do matrimônio, contudo, são virgens somente quando se abstém, por causa do Reino dos Céus, do exercício consciente do sexo. José assim como Maria foram virgens em vista do serviço à encarnação. Santo Agostinho afirma: “Como Maria foi mãe sem a concupiscência carnal, assim José foi pai sem ter relação sexual...”. Da mesma forma, São Beda enfatiza que: “não apenas a Mãe de Deus, mas também São José, testemunho beatíssimo e guarda de sua castidade, foi totalmente imune de qualquer ato conjugal”, Ainda São Pedro Damiamo (+1072) diz: “É fé da Igreja que não apenas a mãe de Cristo foi virgem, mas também aquele que foi tido como seu pai” (De Coeelibatu sacro, 3 ML 145,384).
 Na verdade são inúmeros  os autores antigos e também modernos que defendem a perpétua virgindade de São José, contudo não faltam também autores, inclusive católicos, que chegam a afirmar que o Cristo poderia inclusive ter sido concebido segundo as leis de todo matrimônio e que isto não ofuscaria o mistério da encarnação (Nuñoz Iglesias, La  concepción virginal de Cristo en los evagelios de la infancia; “Estudios biblicos, 37 [1978] pg 213 – 241).
É claro que Santo Ambrósio e Santo Hilário negaram a virgindade de José, mas influenciados pela necessidade de explicar literalmente os textos do evangelho que falam dos “irmãos” e “irmãs” de Jesus, atribuindo estes a José como fruto de um matrimônio precedente àquele com Maria, como relataram alguns apócrifos (De Santos Otero, Los evangelios  apócrifos, Madrid 1956 -  Protoevangelio de Santiago, 9, 2 pg  162; Evangelio del pseudo - Matteo, 8,4, pg 212; História de José el Carpinteiro 2,pg 362). Já São Jerônimo nega que os irmãos do Senhor sejam filhos de José como frutos de um casamento anterior, mas sim que estes eram primos dos Senhor. Na verdade a  língua hebraica não tinha uma palavra adequada para designar a parentela entre os primos. No Antigo Testamento a palavra “irmão” tem o mesmo significado de sangue e de afetos; basta dizer que São Paulo usa aproximadamente 130 vezes a palavra irmão para todos os cristãos. É natural portanto que Jesus em Nazaré tivesse parentes, primos, que eram chamados simplesmente de irmãos.
É necessário ainda salientarmos que em Mt 1,25 se lê: “E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus”. Ora, a palavra “conhecer” na bíblia tem significado de união sexual sempre  que se refere ao relacionamento conjugal. Isto significa que José não teve relacionamento sexual com Maria. Contudo, Elvídio (século V) e alguns outros, concluíram com esta a afirmação de Mateus, que José “a conheceu depois do parto do primogênito”, posição esta negada por São Jerônimo e também São João Crisóstomo, o qual argumenta que: “sem que ele a conhecesse não indica de fato que a conheceu em seguida, mas simplesmente que a Virgem permaneceu intacta no parto” (Adv Helvidium 7 e 8: ML 23, 191 – 192). Alguns têm se baseado no texto de Lc 2,7 “E deu à luz seu filho primogênito, e envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria”, para dizer que Maria teve outros filhos e que portanto José teve relações com ela, mas São Jerônimo explica: “Cada primogênito é primogênito... Este não é só apenas o primeiro entre outros, mas simplesmente o primeiro”. Primogênito é aquele que nasce por primeiro de sua mãe, tenha ou não outros filhos depois.
      São José foi escolhido por Deus como esposo de Maria, Virgem e Mãe de Deus; portanto, a sua presença na vida de Maria não se deveu a um simples jogo de circunstâncias, mas foi resultado de uma preciosa intervenção de Deus. O  matrimônio de José com Maria foi destinado para acolher e educar Jesus, assim comportava necessariamente a máxima expressão de união conjugal, ou seja, o grau supremo do dom de si. Em conseqüência, podemos aceitar que a virgindade dentro desse casamento não só não comprometeu a essência desse  matrimônio e da paternidade, mas a evidência e a defende, segundo o dúplice axioma agostiniano "esposo tanto mais verdadeiro quanto  mais casto, dai  tanto mais verdadeiro quanto mais casto".

Questões para o aprofundamento pessoal

1.    Por que alguns negaram a virgindade de José?
2.    O voto de virgindade de Maria e José comprometeu o matrimônio deles? Por quê?