O EXERCÍCIO DE SUA PATERNIDADE E A SUA DENOMINAÇÃO (Curso de Josefologia - Parte II - Capítulo 15)


A paternidade de São José foi, como disse Bossuet, um dom de Deus e por isso ela foi dotada do que é essencial para qualquer paternidade dando-lhe plenamente a consciência de seus direitos e deveres,  tanto é verdade que embora nem fosse necessário a presença de Maria para o recenseamento em Belém, pois ela não era de descendência betlemita e nem da família de Davi e nem mesmo proprietária de qualquer imóvel em Belém, José e Maria foram até lá para não se encontrarem separados naquele momento importante do nascimento de Jesus. José foi depois de Maria, o primeiro adorador de Jesus, Filho de Deus; ele o circuncidou, apresentou-o no Templo, conduziu-o com cuidado e carinho juntamente com Maria para o Egito e depois os trouxe de volta para Nazaré. Ele depois providenciará laboriosamente com seu trabalho o sustento de Jesus e Maria.
Como muito bem afirmou Santo Tomás, o matrimônio de José com Maria e  sua conseqüente paternidade, foram em vista da educação de Jesus, e  neste sentido José exercitou os seus deveres, dentre os quais um dos mais importantes aquele da educação religiosa de Jesus, que segundo os costumes ele ensinou a Jesus desde as tradições nacionais, as quais em grande parte eram de natureza religiosa, assim como as prescrições dadas aos antepassados (Ex 10,2). Fazia também parte desta educação religiosa o ensinamento dos textos literários (2Sam 1,18), ensinamentos este que Jesus recebeu particularmente na escola sinagogal. Claro que a mãe também tinha sua responsabilidade na educação dos filhos, tais como os elementos de instruções moral (Prov 1,8; 6,20), e por isso Maria foi juntamente com seu esposo a dedicada educadora de Jesus.
Ainda na educação religiosa José ensinou a Jesus as orações que todo bom judeu rezava todos os dias em casa, na Sinagoga, ou no Templo, como o “Shemá”, e as orações de agradecimento durante as refeições. Não faltavam ainda na instrução religiosa a história da  libertação do povo da escravidão e as grandes linhas da história da salvação, assim como os salmos, os ensinamentos dos profetas, etc. De tudo isso José foi um fiel executor. Portanto no processo educativo de Jesus, toda a sua vida foi impregnada dos exemplos e dos ensinamentos de José, assim como da educação profissional. É importante lembrar que os artistas também exprimiram este aspecto de José educador apresentando-o algumas vezes ao lado de Jesus diante de um livro instruindo-o .
É difícil encontrar uma palavra apropriada para denominar a paternidade de São José, com diz Billot: “Tratando-se de um caso único e singular, a língua  humana não tem um termo que a defina exatamente” (Billot, De Verbo Incarnato, Roma 1904, pg 400).
      O cardeal Billot reconhece portanto a dificuldade de encontrar uma palavra apropriada para indicar a paternidade de José. Para ele, trata-se  de “um caso único e singular, em que a língua  humana não possui um termo que a defina exatamente" (Billot, De Verbo Incarnato, Roma 1904, p. 400 nº 1). Diante dessa dificuldade, a paternidade de José foi definida como adotiva, legal, virginal, vicária, nutrícia etc.,  termos estes que servem para exprimir apenas os seus aspectos negativos ou secundários. Vamos procurar brevemente os motivos que levaram os teólogos a definir essa paternidade com os termos acima  mencionados.
      Muitos quiseram chamar José de "pai adotivo". Este título indica uma  relação paterna com o filho que não é da família, mas que se tornou em  virtude da lei. É uma  palavra inadequada, pois Jesus não era um estranho na sua família: José personalizava a paternidade divina sobre ele. Portanto, esse título não se encaixa bem, já que a adoção implica a acolhida de um filho, de  uma  pessoa estranha  na própria  família. Entretanto, alguns teólogos defenderam esse termo. Suárez dizia: "Por meio da adoção,  também uma pessoa completamente estranha se torna  filho, e o que adota é considerado pai, embora de certo modo. Assim, José aceitou e adotou como filho caríssimo, entregue pelo próprio Deus, Aquele que a sua esposa lhe deu sem a sua cooperação, mas por  obra do Espírito Santo" (Carrasco, José  Antonio - Paternidad de San José, In "Estudios Josefinos"1 (1947) pg 177-178) . Mas o próprio Suárez acentua depois que não foi José que adotou Jesus como filho, e sim foi Jesus quem adotou José  como  pai. A este propósito, é bom lembrar que o matrimônio de José e Maria, como muito bem ensinou Santo Tomás, foi de  maneira particular estabelecido por Deus para  receber e educar Jesus Cristo.
      Outra expressão para designar essa paternidade é "pai legal", baseando-se na afirmação do anjo a José que Maria, sua esposa,  estava grávida por  obra do Espírito Santo, e que dela nasceria um filho no qual ele colocaria o  nome de Jesus . (Mt 1,21) Esta expressão tem um sentido estritamente jurídico. Contudo, não deixa de ser apropriada, porque explicita que  a sua prole é legítima, reconhecida pela lei, podendo herdar o  nome e os bens.
      Deste modo, confere-se a José a legitimidade da sua paternidade e ao mesmo  tempo a faz messiânica, visto que José torna-se o meio pelo qual Jesus recebe o título messiânico de filho de Davi. Esse título, porém, tem um significado formal e não responde à relação íntima entre pai e filho, portanto é incompleto. 
      "Pai virginal" é outra denominação bastante comum entre os teólogos. Este título também não deixa de ser impróprio, embora possa ser dos mais adequados e aceitáveis, porque capta a essência espiritual desta paternidade e determina a sua natureza. Nesta afirmação, São José é colocado junto com Maria dentro do matrimônio virginal do qual Jesus nasceu. Contudo, resta-nos salientar que existe uma  grande diferença entre José pai e virgem  e Maria mãe e virgem, porque Maria, permanecendo virgem, concebeu Jesus em seu seio por  obra do Espírito Santo, dando-lhe um corpo, carne e sangue, como é comum a  todas as mães, José, ao contrário, não participou de  nada disso. Em conseqüência,  também é um termo impróprio.
      Alguns estudiosos preferiram chamar José de "pai nutrício", levando em conta a sua dedicação a Jesus no exercício da sua obrigação como  pai, mas este termo também  é inadequado, pois São José não foi um simples guarda de Jesus. Ele indica apenas um aspecto da sua paternidade, colocando em luz  algumas funções determinantes de toda paternidade: alimentar, defender ou, em sentido genérico, educar. Limitar a  paternidade de São José a isso  é restringi-la, desconsiderando a  grande missão que ele recebeu de Deus.
      Chamar São José de "pai matrimonial" de Jesus também  já foi defendido na teologia Josefina,  levando em consideração que a sua paternidade  deriva do seu matrimônio com Maria. Parece que  o próprio Santo Tomás se coloca nessa linha quando afirma que "o matrimônio de José foi disposto para acolher e educar a prole, Jesus", isto  é , houve uma predisposição divina. Essa  é  também uma  denominação incomum, assim como a expressão  "pai vigário" para indicar que José devia fazer as  vezes de Deus Pai. É uma linguagem difícil de  ser  entendida.
      O título mais comum que os teólogos encontraram  para designar a  paternidade de São José é "pai putativo",  baseando-se em Lucas 3, 23: "Ao iniciar o  ministério, Jesus tinha  uns trinta anos, filho, segundo  se pensava de José..." Esse título também diz pouco. Serve somente para afirmar que  os  habitantes de Nazaré acreditavam que ele era o  pai, sem que ele o fosse,  o que pode fazer com que também nós acreditemos sem que ele o seja. Com esse termo excluímos São José da participação física no nascimento de Jesus, sem destacar os aspectos positivos da sua paternidade.
      Diante de  tantos títulos e qualificações para esta  paternidade, qual seria a mais adequada para continuar chamando São José de pai?  Duas expressões se apresentam como mais adequadas:  pai putativo  e  pai virginal. O  primeiro nega a  relação de  uma paternidade  natural, mas não exclui  nenhuma das atribuições que dizem respeito a essa paternidade. O segundo tem a  facilidade de proporcionar um  melhor entendimento dos fiéis, já que todos sabem que Maria concebeu por  obra do Espírito Santo, e não por obra de um homem. Na verdade, nenhum título exprime a totalidade do relacionamento de São José com Jesus. Como esposo de Maria ele teve a missão não só de sustentá-la, ou de  dar testemunho da sua virgindade para defender a sua honra,  mas  também , como afirmou o Papa Leão XIII na encíclica Quamquam Pluries,  "De  participar da sua excelsa dignidade".  A dignidade  de Maria é ser mãe de Jesus. Por isso, São José participa dessa dignidade como pai de Jesus. Ciente disto, Suárez afirma que São José tem, junto com o nome de pai, a realidade da paternidade enquanto pode tê-la uma criatura, excluindo somente a geração física, ou como também afirmou São João Crisóstomo que São José  teve, "salvo a sua virgindade, tudo aquilo que é próprio de  um pai".       Em conclusão, podemos dizer que a  paternidade de São José é um caso  único, é  uma  paternidade sobrenatural, por isso acima de todas as paternidades que possamos conhecer. Não encontrando uma  palavra que possa expressar  perfeitamente essa  paternidade especial,  o melhor seria continuar chamando São José simplesmente de "pai de Jesus", como a Sagrada Escritura sempre o chamou, não acrescentando nenhum adjetivo especial a esse título. Chamá-lo  de "pai de Jesus" continuará contudo um perigo de heresia,  porque o povo cristão sabe muito bem que São José não é o  pai natural de Jesus.

Questões para o aprofundamento pessoal

1. Dê algumas indicações ao exercício da paternidade de José em relação a Jesus.
2. Indique as várias expressões e explique-as, para indicar o exercício da paternidade de José.
3. Qual o título mais adequado para exprimir o exercício da paternidade de José? Por quê?