O NASCIMENTO DE JESUS E A SUA CIRCUNCISÃO (Curso de Josefologia - Parte I - Capítulo 06)


O evangelista Lucas coloca neste acontecimento o fato de um Decreto para o recenseamento promulgado por César Augusto, fato este que levou José e Maria a dirigirem-se de Nazaré até Belém. Em Lucas (2,1-7) lemos “Naqueles tempos apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Este recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria. Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade. Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à Cidade de Davi, chamada Belém, porque era da cada e família de Davi, para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida. Estando eles, ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito, e envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria”.
Constatamos que no segundo capítulo de Mateus por três vezes ele insiste: “Para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor por meio do Profeta”. Ainda Mateus (2,5-6) afirma: “Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe  que governará Israel, meu povo”. Ora, tudo isso indica expressões dos desígnios de Deus a respeito do nascimento do Messias.
Podemos concluir que a partir do fato do recenseamento, José começou a exercitar os seus direito e deveres de pai em relação a Jesus buscando o lugar para o seu nascimento, permanecendo ao lado de Maria durante o parto e depois registrando em Belém o nome e a pessoa de Jesus como seu descendente e em tudo isso saboreando, apesar das circunstâncias difíceis do nascimento de Jesus, que ele era o pai daquele que salvaria o mundo dos seus pecados (Mt 1,21).
Após o nascimento de Jesus, seus pais procuraram circuncidá-lo. O episódio da circuncisão de Jesus impressionou muitos pintores e artistas talvez pelo motivo da eficácia da cena, assim como tocou muitos pregadores pelo motivo do sangue derramado no rito, etc. Contudo  é importante considerá-la na sua justa perspectiva teológica.
A circuncisão não foi invenção dos hebreus, porque esta já era conhecida entre os povos com os quais o povo hebreu teve contato. O que é próprio dos hebreus foi ter assumido este rito como símbolo da aliança com Deus e da santidade de Israel entre as nações. A carne do hebreu circuncidada é o sinal da aliança mantida e portanto do direito das promessas feitas por Deus a Abraão, e é também um título para o exercício do culto (Ex 12,43-44s). É em suma, um sinal de pacto com Javé.
A lei da circuncisão é descrita meticulosamente em Jeremias 17. É preciso afirmar que a circuncisão de Jesus não pode ser considerada somente como uma circunstância que permitiu de introduzir uma ação importante na sua vida, ou seja; de dar-lhe o nome de Jesus, embora reconhecendo a ênfase sobre a imposição do nome. Sem dúvida, Lucas não inseriu o rito da circuncisão simplesmente como uma notícia de crônica e nem quis com isso enfatizar a solidariedade de Jesus com o gênero humano, enquanto esta verdade já estava presente na encarnação. Também não é específico da circuncisão de Jesus a sua inserção na descendência de Abraão, porque esta podia também ser dada para estrangeiros como possibilidade para que participassem do culto (Gn 17,12; Ex 12,48), muito mais porque Lucas relata que Maria era esposada com um homem chamado José, da casa de Davi.
A circuncisão, portanto não pode ser considerada, como já afirmamos, apenas como uma circunstância para dar o nome a Jesus. Ademais, Lucas não diz expressamente que Jesus foi circuncidado, mas usa a expressão: “Quando se completaram os oito dias para a circuncisão...” (Lc 2,21). Este detalhe é importante para evitar que Jesus pudesse vir a ser colocado entre os circuncidados como se fosse um membro da aliança, ele que é a própria aliança. Ademais, Jesus não é um beneficiário das promessas, pois ele é a Promessa (2Cor 1,20), ele é aquele que “salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,21). Ele não está portanto entre os eleitos e salvos.
Lucas enfatiza a origem celeste do nome Jesus, deixando na sombra a função de José (Mt 1,21-25) e de Maria (Lc 1,31), para evidenciar que a salvação vem de Deus na pessoa de Jesus.
A circuncisão tornou Jesus súdito da lei (At 15,5) ele se submeteu à lei. Ela o envolveu na aliança, mostrando que ele é o Sim das promessas de Deus (Lc 1,54s.72s. 2,25). A circuncisão na ótica de Lucas foi o momento histórico no qual o nome de Jesus  tornou-se mysterium salutis. De fato, ele interpreta este evento no seu significado salvífico através da ligação com o nome de Jesus “Ele enviou a sua palavra, aos filhos de Israel, anunciando-lhes a boa nova da paz por Jesus Cristo...” (At 10,36).A eficácia do nome Jesus tem aqui o seu início e todo o seu significado.
Entre os primeiros deveres de um pai para com o filho estava aquele de circuncidá-lo, o que não significava que o pai devia ser o executor material, porque podia ser a mãe (Ex 4,25), ou normalmente, dado a delicadeza do intervento, era atribuição de uma pessoa capaz, conhecido como Mohel (circundante). Contudo, era o pai que devia assumir a responsabilidade para que o seu filho fosse inserido no povo da promessa.
Esta cerimônia era realizada normalmente na casa do neonato (Lc 1,59) com a presença de um certo número de testemunhas que segundo a tradição talmúdica eram dez, entre as quais estava o padrinho que segurava o menino durante a cerimônia. Durante o rito o pai da criança proferia, conforme a tradição talmudica, uma benção com estas palavras: “bendito aquele que nos santificou com os seus mandamentos e nos ordenou de  introduzir a este na aliança de Abraão, nosso pai”. No relato do desenvolvimento deste rito José ficou na sombra, contudo foi ele que como pai de Jesus que providenciou, preparou e preocupou-se com todos os requisitos para a realização deste rito. As gotas de sangue, o choro do menino, as suas lágrimas, são todos detalhes daquele precioso momento que podemos imaginar presentes em seu coração através daquele rito. Neste, José impondo-lhe o nome de Jesus declarou, como afirma a Exortação Apostólica Redemptoris Custos, “A própria paternidade legal em relação a  Jesus; e, pronunciando esse nome, proclamou a  missão deste menino, de ser o Salvador” (RC 12). Ele foi o primeiro a pronunciar oficialmente para o mundo o nome de Jesus e a proclamar consequentemente a sua missão de Salvador da humanidade.


Questões para o aprofundamento pessoal


1.    Leia e tome conhecimento do relato sobre o recenseamento em Lc 2,1-7 e compare com Mt 2,5-6. Qual a finalidade do recenseamento e qual a função que José manifesta neste episódio?
2.    Leia Êxodo 17 depois indique em Lucas onde encontra-se a referência à  circuncisão de Jesus?
3.    Por que Jesus foi circuncidado? Qual foi a função de José neste acontecimento da vida de Jesus?